Quando o maestro introduziu a
música que abria a cerimônia, meu coração gelou. Todos pareciam muito
emocionados, mas o que eu sentia era um misto de ansiedade e nervoso. Mas não
tinha como hesitar. E entrei.
Pé ante pé, todos os casais
seguiam muito impecáveis na sintonia, no ritmo e na elegância. E eu estava lá,
menos preocupado com a Adriana, que me acompanhava, do que com o encontro que
se aproximava. E eu sabia o que encontraria lá e, por isso mesmo, a situação me
era extremamente desconfortável. Ele não sabia que eu estava entre os
padrinhos. Era muito mais difícil que ele conhecesse cada uma das testemunhas
do que elas saberem quem era o celebrante. E o celebrante era Hugo, o
seminarista. Àquela altura, pastor. Quando cheguei próximo ao altar, não teve
como evitar a troca de olhares. Ele se desconsertou, enquanto eu tentava a todo
custo disfarçar o constrangimento promovido pelo reencontro. Dei de ombros,
torci o rosto para outro canto e me posicionei com a Adriana na seção destinada
aos padrinhos. Era o casamento da Natália, minha amiga de infância, a quem eu
considerava como prima. Ela entrou linda, vestido marfim, impecável. Vestido
discreto, retilíneo, destacando mais a grinalda e o véu que a própria roupa. Em
suas mãos, um buquê de rosas vermelhas que chamava a atenção de todos os
presentes, cada qual – como se tivessem ensaiado – levantava-se para admirar a
beleza da noiva, que entrava sozinha na igreja.
– Melhor assim! – pensei –
que a atenção de todos continue sobre a noiva. Tudo o que eu mais quero agora é
ser uma formiga, invisível, imperceptível.
Ledo engano. Quando a
cerimônia terminou e todos se encaminhavam para dar os cumprimentos aos noivos,
foi inevitável que passássemos um pelo outro. Obviamente ele me viu entrar na
igreja. Durante a cerimônia percebia as inúmeras vezes que ele se dirigia a mim
com o olhar. Naquele momento em que ele não mais era obrigado a se prender aos
protocolos da celebração, não mediu esforçou para vir falar comigo. Tentei
evitar. Tentei sair pela lateral, mas a igreja estava lotada, sem chances.
Percebi que ele me seguia, fugi. Ao vê-lo caminhando em minha direção,
esquivei. Não teve jeito. O encontro foi inevitável. Hugo me pegou pelos braços
disfarçadamente enquanto eu tentava sair pela porta, às escondidas, no meio da
multidão. Apertou firme o meu braço e disse, sorrindo – não porque estivesse
feliz, mas porque disfarçava seu incômodo – por entre os dentes:
– Espera. Eu quero falar com
você.
Anos atrás havia acontecido
aquele lance com o Elias, o filho do pastor. Eu tinha 16 anos e foi com ele que
eu tive a minha primeira vez. Depois de algum tempo Elias se casou. Porém ele,
por ainda estar preso a dogmas religiosos, provavelmente tem até hoje uma vida
dupla. Meu caminho foi diferente. Com o tempo fui me libertando dessas amarras
religiosas. Mas mesmo assim, ainda haveria de esbarrar outras vezes com pessoas
mal resolvidas em sua relação pessoal com Deus. E o Hugo era uma dessas pessoas
mal resolvidas que apareceram no meu caminho. Ele era irmão do diácono Joel,
meu antigo professor da Escola Dominical. Hugo e eu éramos da mesma classe.
Ele, sete anos mais velho que eu. Depois do episódio do Elias, acabei me
afastando daquela comunidade religiosa. Mas eis que a roda da vida me jogou
novamente para aquela igrejinha. A pedidos de minha mãe, voltei a freqüentar os
cultos. Não porque tivesse vontade, mas mais para acompanhá-la em seu processo
de cura interior, devido a uma crise depressiva que a abateu durante longos anos.
Quando eu voltei a freqüentar a escola dominical, o diácono Joel tinha
falecido. Para minha surpresa, seu irmão tinha assumido a docência. Eu nunca
fui muito com a cara do Hugo, mas o que poderia fazer? Ele era o seminarista da
igreja! Fiquei pasmo quando eu soube que aquele cara chato e antipático tinha
sido promovido a seminarista.
Foram dois longos meses até
que os primeiros problemas nas aulas da escola dominical começassem a aparecer.
Eu não tinha o menor saco para moralismos religiosos. Estava no início da
faculdade, vendo e revendo meus conceitos. Meus hormônios estavam à flor da
pele e não havia Cristo que fizesse meu pau baixar quando me sentia atraído por
um homem que me olhasse a fundo no ônibus, ou me cantasse durante uma chopada.
Amanheceu num dia intenso de inverno. O seminarista Hugo resolveu que aquele
domingo frio era dia de estudarmos sobre o apóstolo Paulo. Contou sobre como
veio a se chamar Paulo, sua ida a Grécia, e tudo o mais. Mas quando ele chegou
à Carta de Paulo aos Coríntios, foi enfático no capítulo 6, verso 10:
– “Não erreis: nem os
devassos, nem os idólatras, nem os adúlteros, nem os efeminados, nem os
sodomitas, nem os ladrões, nem os avarentos, nem os bêbados, nem os
maldizentes, nem os roubadores herdarão o Reino de Deus.” – disse o
seminarista, lendo o trecho da Bíblia.
Essa passagem não fazia o
menor sentido pra mim, nunca me desceu. Passei a adolescência inteira tentando
entender por que sodomitas e efeminados não entrariam no céu, e me martirizei
durante anos. Era a minha chance de replicar. Levantei o braço e instiguei:
– Professor, eu não concordo.
– Como assim você não
concorda? É a Bíblia!
– Tudo bem, mas não faz
sentido. O ladrão não vai pro céu?
– Não.
– Mas não foi Cristo quem
disse “Ainda hoje estarás comigo no Reino dos Céus” na cruz? E o cara não era
ladrão?
– É, mas se arrependeu.
– Tudo bem, mas que era
ladrão, era.
– É.
– Então o ladrão pode ir pro
céu.
– Se se arrepender.
Mas não me satisfiz.
Continuei a provocação.
– Professor, o senhor já
mentiu?
– Todo mundo já mentiu.
– Então todo mundo vai pro
inferno.
– Como assim?
– Os mentirosos também não
vão herdar o reino de Deus.
– Onde você leu isso?
Devassos, idólatras, adúlteros, sodomitas, efeminados, ladrões... Coríntios não
fala de mentirosos! Podemos continuar?
– Mas em Apocalipse fala e eu
acho que a gente tem que falar também dos mentirosos. Se ladrão não entra,
mentiroso também não. E todo mundo mente. Não faz sentido.
– O que não faz sentido é
você interromper a aula pra ficar desmentindo a Bíblia.
– Eu não estou desmentindo a
Bíblia, professor, só acho que o senhor está enganado. Ou então, o irmão Joel
foi pro inferno, porque além de ter traído a irmã Sandra, falava mal de todo
mundo na igreja.
Foi a gota d’água. Eu toquei
na ferida do seminarista. O irmão era falecido há poucos meses, e ele ficou
extremamente furioso. A aula praticamente acabou, e eu acabei tendo que ficar
pra conversar com ele a sós.
– Quem você pensa que é,
moleque? Você acha que Deus se agrada disso? – questionou Hugo.
– Me desculpa, não devia ter
falado do seu irmão, mas é que o que o senhor falava não fazia sentido pra mim.
– O que não fazia sentido?
– Que essas pessoas não vão
pro céu!
– Mas não está escrito,
irmão? A Bíblia não falha. Se está escrito, está escrito.
– Mas eu não me conformo com
isso. O senhor me desculpe, mas não desce. Não vejo motivo pra Deus não perdoar
uma falha humana. Não acredito num Deus tão cruel.
– Você acha que um bêbado
pode ir pro céu?
– Acho.
– Pelo amor de Deus! Um
idólatra pode ir pro céu, irmão? Responde.
– Sei lá, julgar não é
pecado? Quem sou eu pra julgar. Se Deus quiser, pode, ora.
– Sabe o que eu acho, irmão?
Acho que você ta querendo arrumar uma desculpa pra ir pro céu. É ou não é?
– Eu não sou idólatra, irmão.
– Mas bebe um pouquinho, não
bebe?
– De vez em quando, mas não
fico bêbado.
– Então qual o seu problema?
Fala pra mim, irmão. Por que ficar questionando Deus?
– Eu não estou questionando
Deus, estou questionando o senhor.
– Deve ter algum motivo...
Ladrão eu acho que você não é, né?
– Lógico que não.
– Então fala pra mim, fala. –
disse o seminarista incisivo, irado, olhando nos meus olhos, com as pálpebras
em chamas – fala pra mim, irmão. Você ta com medo de ir pro inferno porque é
sodomita. Não é isso?
– E se fosse?
– Eu sabia.
– Acho que isso não é da sua
conta. O senhor não sabe de nada.
– É lógico que eu sei, rapaz.
É lógico que eu sei.
O seminarista fechou a porta
da sala, conferindo para ver se alguém se aproximava. Não havia ninguém. Como
se tivesse uma pérola nas mãos, usava das palavras para me condenar.
– Se não é sodomita, é
efeminado. – dizia.
E eu não cedia. Não respondia
nem que sim, nem que não. Por dentro eu estava bastante furioso.
– Sabe o que eu acho, irmão.
Acho que você gosta de homem.´
– Por que o senhor quer tanto
saber isso?
– Sou teu professor, acho que
eu devo saber. Pode confiar em mim, é segredo. É melhor que eu saiba do que a
igreja inteira, não acha?
Senti uma ponta de ameaça,
mas ignorei. Resolvi responder.
– Tudo bem, eu sinto atração
por garotos. Mas e daí, não escolhi isso.
– Eu sabia, garoto. Sabia. E
como é essa atração?
– Ah, depende.
– Depende de quê?
– Ah, depende do garoto, não
é qualquer um.
– Você gosta de mais
novinhos, mais velhos, como é isso?
– Geralmente mais velhos, mas
não é regra.
– Até uns trinta anos ou
mais?
– Até trinta, não muito mais
velhos.
– Eu tenho vinte e sete. Eu
estou dentro do perfil?
– Não entendi, irmão.
– Quero saber se você sente
atração por homens como eu.
– Como o senhor sim.
– E por mim?
Dizendo isso, pegou minha mão
e colocou em seu pau, rígido feito pedra. Eu nunca tinha visto o seminarista
Hugo com outros olhos, e aquela situação me pegou completamente desprevenido.
Eu estava com muita raiva daquele cara, mas subitamente minha raiva converteu-se.
Transformou-se em tesão.
– Aperta, sem medo. – disse
Hugo – Vem, se diverte com ele.
Eu massageava aquela rola
ainda dentro das calças. Ele abriu cada um dos botões de sua camisa e eu caí de
boca nos seus peitos, cheios de pêlos. Abri o zíper da calça dele e botei seu
pau pra fora, que a essa altura já estava completamente melado. Comecei a
masturbá-lo. Chupava seu peito e tocava uma punheta para o seminarista. Baixei
minha calça e juntamos nossas picas, que começaram a se roçar. De frente um
para o outro, o beijo foi inevitável. Tiramos nossas camisas e ficamos com as
calças nos pés. A maçaneta na porta mexeu e, em seguida, ouviu-se uma batida.
– Tem alguém aí? – perguntou
irmã Celina, a zeladora da igreja.
Emudecemos. Ela tornou a
perguntar, posto que a porta estava trancada. – Sim, sou eu, irmã! – respondeu
Hugo, vestindo-se – Estou trocando de roupa.
– Trocando de roupa aí
dentro?
– É, irmã, vou pra uma festa
agora e aproveitei e trouxe a roupa! Já estou saindo! – improvisou o
seminarista, desesperadamente, com uma desculpa esfarrapada que não colaria em
situação nenhuma, exceto pela contrarresposta da irmã Celina.
– Tudo bem, irmão Hugo, deixa
a chave lá em casa então, é que eu preciso sair para ver minha mãe agora à
tarde. Já estou atrasada!
Não poderia haver notícia
melhor. A ameaça desaparecera! Hugo me perguntou se eu queria continuar ali
mesmo, e eu, prontamente, respondi que sim.
Voltamos a nos masturbar
reciprocamente. Nossos beijos eram muito intensos e nossas mãos procuravam
qualquer resquício de pele que ainda não havia sido tocado no outro corpo.
Estávamos ali com muita intensidade e o clima de proibido alimentava o prazer.
Quando estávamos nus,
completamente nus, Hugo pediu pra que eu sentasse na mesa. Assim o fiz. E ele, resolveu
mostrar a que veio, deixando claro o tipo de interesse por mim. De súbito,
agarrou minhas bolas e começou a massageá-las. Primeiro com as mãos, depois com
a língua. Lambia minhas virilhas e me chamava de “moleque”. Brincava com sua
língua de percorrer o meu corpo, da virilha ao umbigo, dos mamilos, ao saco.
Até que resolveu mesmo é cair de boca na minha pica. Hugo me mamava feito um
bezerrinho faminto. Com certa dificuldade, tentava engolir minha vara grossa,
mas não parecia reclamar do tamanho. Aos pouquinhos, era possível ver no chão
os pingos de saliva que escorriam da boca do seminarista enquanto ele se
deliciava com o boquete que me pagava.
– Ah, moleque safado. Que
pica gostosa, garoto!
– Que delícia, maravilha! –
eu me limitava a dizer, perdendo as palavras a cada sugada que eu recebia.
A garganta do Hugo era tão
profunda, mas tão profunda, que era possível sentir a cabeça do meu pau
esbarrar nas paredes de sua traquéia. Era como se meu pau, não tendo mais pra
onde ir, tivesse que descer garganta abaixo. Eu nunca tinha sentido aquilo e
não entendia como o cara não veio a vomitar.
– Chega! Para senão eu gozo.
Deixa eu provar você um pouquinho – pedi.
Coloquei o seminarista de
costas pra mim, deitado sobre a mesa. Ele, de bruços, levou o joelho direito
para perto do rosto, arreganhando-se completamente para mim. Seu rabo era
convidativo. Era depilado, diferente do resto do corpo. Ou então naturalmente
não tinha pêlo mesmo. O fato era que seu cuzinho se destacava no meio daquele
par de nádegas redondinho. Sem hesitação, meti a língua nele. Primeiro lambia,
lambia, lambia. Deixei a porta de seu cu completamente molhada com minha
saliva. Saliva espessa, densa. Com as mãos, eu abria seu rabo e enfiava minha
cara inteira naquele cu. Vez por outra aproveitava o relaxamento do músculo e
introduzia um dedo. Às vezes dois. Em certo momento meti o polegar. Depois o
outro polegar, ao mesmo tempo, de forma tal que conseguia abrir o cu do
seminarista com os polegares e apalpar com o resto das mãos sua bundinha redondinha,
que se encaixava perfeitamente à minha pegada. Quando eu vi que Hugo estava
delirando de prazer, mordi a borda de seu buraco, e ele foi às nuvens! Gritou.
– Cala a boca! – ordenei.
Resolvi que agora eu estava
no comando. De certa forma me sentia como se estivesse dando a revanche pelo
tratamento que eu recebera na aula. Seu cu tinha um gosto de vingança e, como
se sabe, a vingança é um prato que se come frio. Eu já contava com o tempo a
meu favor. Era inverno, frio já estava. O prato estava servido e só me restava
comê-lo. Firmei a língua e meti com força cu adentro. Hugo delirou. Comecei a
penetrá-lo com minha língua, intensamente, dando tapinhas naquela bunda
gostosa. Hugo rebolava na minha cara, enquanto eu me masturbava sentindo o
gosto da vingança em minha boca.
– Você não disse que eu era
sodomita? Então, professor, agora eu vou te sodomizar. E sem dó nem piedade.
Peguei uma camisinha na
carteira e meti no pau. Com duas ou três cuspidas, meu pau já estava mais que
lubrificado. Não foi com muito esforço que ele entrou bonito no cu do
seminarista, que permanecia arreganhado sobre a mesa, recebendo meu cacete. De
fato não tive pena do Hugo. Ele, tampouco, importava-se com isso. Ao contrário,
empinava aquele rabo e eu, tesão à flor da pele, dava só de estocadas pra
dentro dele. O barulho era alto. Seu rabo parecia gemer cada vez que me saco
batia com força em sua bunda.
– Toma no cu, toma! Deixa o
sodomita te comer gostoso. – brinquei, irônico.
Quando já estava quase
gozando, mandei ele deitar-se mais pra frente, na mesa, de maneira que sua
cabeça se aproximasse da borda. Fui pro outro lado e retirei a camisinha. Com a
cabeça pendendo, Hugo não tinha outra escolha a não ser sustentá-la
agarrando-se ao meu pau. Tornou a me chupar e dessa vez não tive muita
paciência. Perguntei se ele queria leitinho e, como ele estava bastante
ocupado, não pôde falar. Balançou a cabeça, de maneira afirmativa, e então
tirei sua boca do meu pau. Agarrei o seminarista pelo cabelo, dei dois tapas em
sua cara e mandei ele colocar a língua pra fora. Foram três jatos fortes de
esperma que foram certeiros em sua cara. O último deles escorreu pela língua.
Os outros, que vieram depois, foram mais fraquinhos. Por isso eu limpava meu
pau no rosto do seminarista, tentando tirar a porra que escorria devagar pela
glande. Hugo não colocou a língua pra dentro para não sentir o gosto de meu
leite. Em compensação, sua barba preta e espessa ficou completamente lambuzada
com a esbranquiçado do meu esperma escorrendo por entre seus pêlos faciais.
Aquele rostinho branco, de nariz afilado e rosto marcado de acne, terminou a
cena completamente ultrajado. Porém, ele mesmo deliciando-se com o ultraje.
Quando Hugo saiu da mesa, deixou um rastro de esperma na superfície. Tinha
gozado sem sequer se tocar. Limpou a língua e o rosto nas mangas da camisa,
assim como a mesa. Vestiu-se, dobrando as mangas para esconder a roupa melada.
A transa com o Hugo foi uma
das mais intensas que tive até hoje. Tanto, que repetimos a dose no domingo
seguinte. E depois, no outro, e no outro, e no outro. Hugo e eu decidimos
namorar depois de um mês transando nas dependências da igreja. Ora trepávamos
na sala de aula, ora o gozo era às custas de uma rapidinha no banheiro. À
noite, os corredores externos eram o palco do nosso prazer, principalmente aos
domingos. Se não transássemos de manhã ou de tarde, certamente tinha foda
depois do culto, depois que todos iam embora. O corredor externo era de fácil
acesso. Qualquer pessoa que estivesse na rua conseguia entrar ali. Passamos por
poucas e boas tentando nos esconder de outros casais que eventualmente se
roçavam dentro dos muros da igreja.
O fato é que aos pouquinhos
começou a brotar um sentimento gostoso entre nós dois e o Hugo acabou se
apaixonando por mim. Em certa medida eu correspondia ao seu sentimento, porque
fui percebendo que ele – antes chato, soberbo, petulante – era um cara legal
que apenas deslizava em sua insegurança com relação à sexualidade. Pois bem,
foram seis meses de um namoro às escondidas, uma relação muito intensa e
recheada de muito sexo. Mas todo carnaval tem seu fim. Pouco antes de
completarmos seis meses de namoro, Hugo começou a mudar seu tratamento em
relação a mim. Passou a ser mais frio, mais seco, e nossos domingos passaram a
ser vivenciados cada um para seu lado. Nunca apareceram tantos compromissos
dominicais na vida dele e, a cada domingo, ele era bem menos criativo em
inventar mais uma desculpa para não nos vermos e... Sim, eu poderia tê-lo
chamado para uma conversa, mas me contive. Antes tivesse conversado. Em um dos
domingos surpreendi a Natália – aquela que me convidaria para ser padrinho de
seu casamento anos mais tarde – conversando curiosa e em tom comemorativo com
uma tal de Rafaela. Essa Rafaela era uma beatinha pão-com-ovo, do estilo ex-funkeira-pagodeira-ou
coisa-que-o-valha. Dizia-se “convertida” para pagar os pecados que os outros
diziam ser pecado. E agora, a santa-do-pau-oco estava conversando com a
Natália, muito animada com a chance que o Hugo tinha dado para ela. A Natália,
cupido da turma, trataria de promover o encontro fatídico entre a tal Rafaela e
o... Hugo!? Não consegui me controlar e acabei desabafando com a Natália,
expondo a ela a situação e pedindo, pelo amor de Deus, que não influísse no
encontro dos dois antes de eu conversar com o Hugo. Ela, surpresa com toda a
situação e, sendo minha amiga, atendeu. Não tardou para que eu chamasse o Hugo
para esclarecer aquela situação e no mesmo dia nos encontramos.
– Eu te amo, cara, mas não dá
mais pra gente continuar.
– Por que não, Hugo?
– Você sabe que não é certo,
é contra a lei de Deus.
– Traição também é contra a
lei de Deus, porra! – gritei, nervoso. – Você está me traindo, traindo meus
sentimentos por você. Eu acreditei em nós dois, eu me dediquei a você e...
– Eu ia te contar!
– O caralho! Pra cima de mim,
não. Me fez de besta, todo engraçadinho pra cima daquela crentezinha filha da
puta!
– Dá pra se acalmar? Dá pra
controlar essa boca?
– Cara, como você faz isso
comigo? – disse, chorando. – você não entende!
O Hugo era muito inseguro.
Muito! Provavelmente suas leituras fundamentalistas dos textos da Bíblia o
fizeram repensar sobre o nosso relacionamento. Primeiro veio a frigidez, depois
esse lance com a Rafaela.
– Nas minhas costas, cara?
Nem de mulher você gosta... – argumentei.
– A gente pode continuar. Não
tem problema. Eu só não posso mais namorar você.
– Eu não acredito nisso! Você
tem noção do que está me propondo, Hugo? Que mar de hipocrisia é esse em que
você nada? Sai dessa, cara. Pra mim não dá, não dá. Não agüento mais viver
escondido, no subterrâneo da vida, fingindo ser o que não sou. Ou você está
comigo, ou não está.
– Por favor, ninguém precisa
saber.
– E você acha que ninguém
percebe, seu retardado?
– Eu não sou gay, cara.
Ninguém sabe de mim.
– Não sabia. A Natália agora
sabe! A gente conversou. – sem querer acabei expondo o nome da menina na
conversa. E a coisa esquentou.
– Você não tinha o direito
de... eu não te autorizei! – disse ele, aos berros.
– Teu armário é de vidro,
Hugo. Com o tempo, todo mundo vai perceber.
Hugo, sentindo-se ameaçado,
no auge de sua insegurança, replicou.
– Antes de saberem de mim,
saberão de você.
Não preciso dizer aqui o que
aconteceu. Não demorou até o domingo seguinte para que a igreja inteira
estivesse aos cochichos sobre a minha sexualidade. Olhos que nunca me
perceberam passaram a me olhar, me apontar e, desapontados, condenavam-me ao
inferno como se eu fosse o pior dos pecadores.
Eu, por mim, não estava nem
aí para cara feia. Olhos por olhos não matam. O que mata é o que sai pela boca,
já dizia o próprio Cristo. E o que deveria ser o “corpo” de Cristo – a Igreja –
acabava se reduzindo a um único membro: a língua. O disse-me-disse se alastrou
por entre os crentes e todos se afastaram do meu convívio e do convívio com a
minha mãe. Hugo tinha feito o inferno naquele lugar. Eu virei a putinha da
igreja. Ouvia tantas barbaridades, tantas, que não sei de onde brotavam tantas
histórias eróticas. Provavelmente da mente de um povo mal resolvido, reprimido
em seus desejos. Minha mãe não suportou a situação e, para salvar sua vida, ela
aceitou sair da igreja e se afastar daquela gente. De lá guardo poucas
recordações e raríssimas amizades. Uma delas é a da Natália, que manteve
contato conosco durante o nosso exílio babilônico.
– Espera. Eu quero falar com
você. – insistiu o pastor Hugo, ainda na saída da igreja.
– Desculpe, pastor, mas acho
que não temos nada pra conversar.
– Não, nós temos sim. Vem
comigo, por favor.
Acabei cedendo e, sem mesmo
cumprimentar os noivos, acompanhei Hugo até um local mais reservado. Eu estava
completamente emocionado, mal conseguia concatenar sílaba com sílaba. Ele, não
muito diferente.
– De tudo o que eu posso
dizer ou fazer, quero apenas uma coisa: te pedir perdão! – implorava.
– Não tenho o que te perdoar,
pastor. – respondi, frio.
– Não precisa me chamar de
pastor, dispenso essa formalidade contigo.
– Mas é o que o senhor é pra
mim. Aliás, pra essa gente toda. Um pastor, não mais que isso.
– Eu não estou pedindo pra
ser mais que isso, eu estou apenas te pedindo perdão. Sei que errei com você e
estou arrependido. – e riu, riu compulsivamente.
– Não estou entendendo, qual
a graça?
– Não me leve a mal, estou
nervoso, só isso. Estou rindo de nervoso! – e continuou rindo, tentando se
conter.
– Eu vou embora! – respondi,
revoltado.
– Não, por favor. Vamos
terminar de conversar!
– Não, eu vou embora, vou pro
salão de festa. Essa conversa não faz o menor sentido.
– Tudo bem, vamos até o meu
carro, a gente conversa, e depois cada um segue seu rumo. Pode ser?
– Tudo bem, pode ser.
Chegando no carro, Hugo foi
do riso ao choro. Contou-me sua história, seu casamento, sua vida infeliz, o
divórcio com a tal da Rafaela. Disse o quanto se sentia arrependido por ter me
feito sofrer, que ainda era apaixonado por mim, que sempre me amou, e que não
agüentava mais de saudades e muito bla-bla-bla. Perguntei a ele por que ele
nunca me procurou para se desculpar, já que se arrependera, e ele dissera que
não sabia de mim.
– Mas a Natália tinha contato
comigo. – repliquei.
– Ela nunca me disse, juro.
Não tinha como perguntar a ela, entende? Seria constrangedor demais!
E assim prosseguiu nossa
conversa, e eu cheguei a ficar comovido com sua história triste. Quando eu
contei o sofrimento que minha mãe e eu passamos, minha emoção aflorou e eu
acabei chorando. Hugo se aproximou para limpar uma lágrima que insistia em
correr pelo meu rosto. Não se conteve com a iniciativa de enxugar a lágrima. E
me beijou.
Eu recusei, tentei afastá-lo.
Mas ele insistiu tanto, que eu acabei cedendo. Seu beijo parecia muito mais
maduro, mais experiente. No auge de seus trinta e tantos anos, seu corpo mais
robusto, e impecável em seus trajes, parecia bem menos inseguro. Prato cheio
para as fantasias mais eróticas de um adolescente em masturbação. No carro, os
beijos ficaram ainda mais intensos. O que restava das lágrimas misturou-se ao
suor que começou a escorrer de nosso rosto, de nosso corpo, à saliva que
decorava nossos pescoços, ouvidos, queixo. No estacionamento da igreja,
estávamos privados de qualquer perturbação. Era início de festa e não tinha
ninguém que pudesse nos atrapalhar com algum farol alto mais ousado e curioso.
Fomos para o banco de trás do carro e acabei baixando minha calça. Hugo,
completamente reprimido em sua libido, via no meu pau a oportunidade de
recuperar o tempo perdido. Por isso, não demorou muito para que caísse de boca
e me fizesse delirar com seus lábios engolindo minha rola. Eu socava aquela
boca com força, com vontade, e ele engolia até o talo, sem reclamar. Ele,
ajoelhado, quando parava de me chupar, recebia um belo puxão de cabelos e uma
surra de pica na cara. Numa dessas vezes em que bati com a rola em sua cara,
punindo-o, ele não agüentou de tesão e gozou. Fiquei meio puto com o fato e
disse que agora ele teria que me fazer gozar, de um jeito ou de outro. Eu, como
já estivesse meio enjoado daquela chupação, falei que queria comê-lo. Ali, no
carro mesmo. No começo ele foi resistente, mas com uma linguada em seu ouvido
ele acabou cedendo. Abriu suas pernas de frente pra mim e, sem muito esforço,
iniciou uma cavalgada muito gostosa, sedenta, máscula. Seu pau, embebido em
esperma, não baixava mesmo depois de ter gozado. Não obstante, sujava meu corpo
e parte da minha roupa com o resto de seu leite. De tanto meter em seu rabo
acabei gozando litros dentro dele, ao som de urros de ambas as partes.
Imediatamente depois do gozo, ele se deitou sobre mim e adormeceu, relaxado.
Já no meio da festa, meu
celular tocou. Era Natália, perguntando onde eu estava, que não tinha ainda me
visto e tal. Inventei uma desculpa qualquer e me aprontei dentro do carro.
Acabei me limpando com a roupa do Hugo, que decidiu não ir pra festa. Então nos
despedimos e eu parti pro encontro com a Natália, ainda meio mexido com tudo o
que tinha acontecido. Essa foi a última vez que vi o Hugo. Até hoje penso nesse
cara. De verdade, não sei se consegui perdoá-lo. Ele deixou seus contatos, e
tal, mas nunca quis procurá-lo. Apesar de fuder gostoso, talvez ele não
merecesse mais a minha atenção. Eu me dei o direito de me valorizar. Das muitas
histórias que eu tive, essa foi uma das que não terminou com final feliz.
Terminou sem ter fim, incógnita, inglória, perdida entre os muitos picos de
prazer e as permanentes lembranças das mágoas.
Este conto faz parte da série
Segredo Sagrado, uma coletânea de histórias eróticas envolvendo sexo,
homoafetividade e religião. Conheça outros contos da série. Leia também: “O
filho do pastor” e “De joelhos para o padre”.
Peter
Cummer, o Gozador do Rio.
O que você achou do conto? Escreva para mim.
E-mail e MSN: petercummer@hotmail.com